Youtubers Rappers e Rappers Youtubers
- Slim G
- 28 de mar. de 2019
- 3 min de leitura
Em Portugal, nos dias que correm o Hip-Hop é um dos estilos de música mais ouvidos ou até mesmo o mais ouvido. Muitos mc’s passaram do anonimato ao estrelato, do bairro para sky, de forma totalmente independente.
Uma das principais razões foi a plataforma de Youtube que disponibiliza música directamente aos seus consumidores finais sem quaisquer tipo de intermediários. Juntamente neste processo apareceram o fenómeno dos youtubers, a nível internacional, houve muitos que para diversificarem o seu conteúdo começaram a apostar numa carreira musical.
Esta tendência de convergência entre os dois mundos parece-me natural mas quero trazer algo mais para este tópico. Mas antes de avançarmos, de forma a alinharmos ideias, na minha óptica, um youtuber é alguém que produz conteúdo activamente no seu canal, excepção se for só única e exclusivamente música. Em Portugal, já há youtubers a apostarem numa vertente musical como o Wuant, Nuno Moura entre outros mas nenhum deles chegou a um nível que se possa eu dizer “Yh vou sacar essa música”. O único que conseguiu trazer um single ou um projecto consistente, com bons instrumentais, letras e algo original foi o Mike Lyte com um funny type rap. Este projecto foi essencial para ele fazer a ponte do mundo do youtube para o hip-hop, acredito firmemente, se ele tentasse se afirmar com outro tipo de projecto seria bem mais difícil para ganhar o respect do mundo do hip-hop. Crocodildo abriu-lhe portas para outro público e outros projectos de hip-hop que queira fazer de forma “mais séria”, isto só lhe é possível, porque já lhe foi reconhecido talento para as letras, instrumentais, temas, entre outros.
Na direcção oposta, do mundo do hip-hop diretamente para o youtube, Os Primos são um caso interessante, trazem um estilo engraçado e anti-youtube,basicamente fazem o que um tradicional youtuber não devia fazer. Através do seu canal de reacts e entrevistas, Smile e Raptruísta, começaram a aumentar a sua visibilidade e legião de seguidores que traziam da Liga Knockout. Se trouxessem outro tipo de conteúdo que não fosse ligado ao mundo do hip-hop acabaria por descredibiliza-los enquanto rappers, aliás nem fazia sentido ser de outra forma. Os vídeos permitem-lhes chegar a mais gente, com um estilo descontraído e energético passam uma ideia de “não nos levem a sério porque nós somos é rappers” e isto ajuda a separar ideias e a alinhar expectativas do que esperar deles.
Agora a questão é, o público do youtube é o mesmo público de hip-hop? Sendo que a plataforma mais utilizada para promover música em Portugal é o Youtube é normal que haja uma intersecção dos dois mundos. Porém, se por um lado o público do youtube tem maior dimensão, o mesmo é mais volátil enquanto que o do hip-hop é mais fiel mas mais difícil de conquistar. Tanto o Mike Lyte como Os Primos ao tentarem trazer público dos dois lados vai exigir mais conteúdo e que agrade aos dois públicos. O público do hip-hop pode não se interessar pelo conteúdo mais virado para o youtube e vice-versa e existe aquele público core que independentemente do conteúdo irá apoiar. Se num canal resulta porque os temas giram sempre à volta do Hip-Hop o outro resulta porque tem talento para dar e vender.
Por fim, quero deixar um shoutout tanto ao Mike Lyte como aos Primos por terem arriscado e ambos estarem a recolherem frutos. Já agora tragam um pastel de nata para o Tiagovski!
Um à parte, Sam The Kid, pode ser considerado youtuber? Se fizermos uma generalização do perfil de youtuber claramente que não. Contudo, a verdade é que ele tem um canal para promover a sua plataforma mas mesmo assim produz conteúdo activamente. Alguns desses exemplos são o 3Pancadas, Linhas de Marca, Na Mira, Acapellas, Instrumentais, Vamos por Partes…

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